segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Os Fins Justificam os Meios?





Tenho lido artigos, na internet, nos quais são defendidas algumas actividades ou experiências a que se submetem os animais como sendo indispensáveis para o aprimoramento das suas características genéticas.

Refiro-me a experiências laboratoriais invasivas, manipulação genética e também a eventos baseados em lutas e maltrato dos animais, como por exemplo as lutas de cães e galos e as touradas, uma vez que, exceptuando as últimas, sobrevivem os mais "fortes" e são estes a ser procurados pelos criadores para fins reprodutores.

Deste modo, e tomando a liberdade de aqui expor a minha interpretação das ideias expressas nos diversos textos, os fins continuam a justificar os meios, especialmente no que diz respeito aos animais.


Quando a Medicina Enlouqueceu...

Correndo o risco de parecer demasiado radical, estas afirmações recordam-me um livro que li há cerca de 10 anos, intitulado “Quando a Medicina Enlouqueceu – A Bioética e o Holocausto”.

Baseia-se num estudo realizado pela investigadora Nancy L. Segal, dirigido por Arthur L. Caplan, no qual o “protagonista” é um famigerado médico nazi de um campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, Dr. Josef Mengele, também conhecido como o "Anjo da Morte".

São descritas inúmeras e terríveis experiências a que este “médico” sujeitou milhares de vítimas, no Bloco 10 de Auschwitz Birkenau. Nomeadamente ciganos, judeus, crianças (particularmente gémeos), mulheres, anões e outros indivíduos com “anomalias” genéticas, no sentido de dar forma ao seu maior sonho: o aperfeiçoamento da espécie humana. A enriquecer o conteúdo deste livro são-nos apresentados chocantes e emocionantes testemunhos de algumas vítimas sobreviventes e de familiares e amigos de tantas outras, a que o destino não bafejou com igual sorte. Todos eles vivem ensombrados pela memória de uma monstruosidade não vingada.


A Bioética

Durante a leitura, deparamo-nos constantemente com a seguinte questão: será ético que a medicina reconheça e aplique os conhecimentos científicos, obtidos à custa de brutais e tortuosas experiências e consequentes mortes, de milhares de cobaias humanas?

A minha opinião é um enfático NÃO. Não considero que seja ético, pois acredito activamente que os fins não justificam os meios.

O Bloco 10 de Aushwits Birkenau
Penso que os cientistas e médicos que inicialmente reutilizaram os dados obtidos, não só por meio das experiências de Mengele, mas pelas, igualmente pungentes, de tantos outros ao serviço das SS, justificaram todas aquelas atrocidades cometidas contra a humanidade, atribuindo-lhes credibilidade e consentimento, para além de se tratar de uma imensurável falta de consideração, para com as vítimas falecidas e sobreviventes.

Mas por outro lado, será agora correcto ou mesmo aceitável ter-se o conhecimento e não o aplicar, sacrificando outras vidas? A minha resposta será também um enfático NÃO.

O erro terá sido divulgar-se o conhecimento. Penso que todos os dados deveriam ter sido imediatamente destruídos. Seria o que eu faria, mesmo que soubesse de antemão que ali estaria a cura para uma doença da qual eu padecesse. Acho que não teria o direito de tornar ainda mais infernal a vida de outros, apenas para salvar a minha. É uma questão melindrosa e requer muita sensibilidade e sensatez na sua abordagem.

Devido ao tremendo impacto e profunda angústia que as fotografias e descrições das ditas experiências causam, decidi não as publicar. Contudo, caso pretendam, podem tomar conhecimento das mesmas neste link da Wikipédia

Para não me distanciar demasiado da ideia inicial, devo dizer que sou igualmente contra todo o género de experiências invasivas em animais. E não só sou contra que os utilizem como cobaias mas também contra todas as actividades e eventos fundamentados por práticas que, conscientemente ou inconscientemente, lhes provoque a morte, dor ou mesmo stress.

Excluindo situações nas quais a nossa sobrevivência possa estar directamente em causa - das quais não faz parte a nossa alimentação - defendo que os animais devem ser deixados em paz e em habitats que reúnam o máximo possível das condições necessárias para uma vida saudável a todos os níveis.

Tal como as vítimas humanas e cobaias involuntárias do holocausto, os animais não têm hipótese de se defender perante o cruel destino que lhes é reservado pelo ser humano e esta questão do aprimoramento de raças e espécies reporta-me sempre para a ideologia nazi, mas desta feita aplicada aos animais.


Egocentrismo e Antropocentrismo

O ser humano tem demonstrado especial tendência para o egocentrismo e antropocentrismo, ou seja, para se julgar superior quer ao seu semelhante, quer aos animais ou à Natureza e para considerar que tudo no Universo deve ser avaliado de acordo com a sua relação com o Homem.

Pintura de Salvador Dali
Esta ideia só nos tem prejudicado... Quando será que o ser humano vai compreender que é apenas uma parte integrante e não o centro do Mundo?

Não vou tão longe como alguns que comparam a inteligência humana a um cancro, o qual, progressivamente vai devorando todo o seu hospedeiro, pelo contrário, reconheço a inteligência como uma das mais admiráveis capacidades do ser humano, porém considero que tem sido mal aplicada ou se preferirem, tem sido utilizada no sentido errado, o de alimentar um dos mais nocivos defeitos da humanidade: a ambição desmedida e o ego.

Mas não sou pessimista. Cada vez mais se encontram mais indivíduos, organizações sem fins lucrativos e algumas empresas, sensíveis a estas questões e dispostos a trabalhar no sentido de fomentar uma maior consciencialização com vista a preservar o nosso meio ambiente e a nossa saúde.

Desde que o antropocentrismo começou a ser combatido, muitos juristas e filósofos passaram a defender a existência dos direitos fundamentais dos animais, como a protecção à liberdade, à integridade física e à vida.

Vai-se fazendo o possível com as armas disponíveis mas será necessária perseverança, pois o ser humano evolui paulatinamente e no que respeita a estas questões, também não há-de ser diferente mas, pelo menos, já me dá algum alento verificar que a cada dia mais pessoas demonstram maior propensão para questionar e abertura para dialogar sobre estes temas.


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