quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Os Animais não são Objectos



Por esta web fora, ainda se encontram muitos que defendem eventos baseados em maus tratos aos animais para o simples entretenimento do público, como por exemplo as lutas de cães e galos e claro, as absurdas touradas. É natural e compreensível que quem já tenha uma consciência acima da média relativamente a estas questões, considere cruéis as pessoas intervenientes neste tipo de eventos e infelizmente eu também não posso deixar de concordar, mas não serão todos!  Pelo que vou lendo e observando, sou levada a crer que - salvo algumas excepções que até não são assim tão poucas - estes actos são fruto de um profundo desconhecimento ou se quisermos, nestes casos em particular, de uma total ignorância quanto às características físicas, mentais e emocionais dos animais, os quais são, inconscientemente, reconhecidos como “objectos” ou “brinquedos”.



As touradas ainda são legais

As lutas de cães e galos são ilegais em Portugal, mas infelizmente, as touradas, apesar de já se encontrarem em franca decadência, ainda são um evento não só legal como elitista, apoiado por pessoas influentes da nossa sociedade, entre as quais ganadeiros (criadores de gado), alguns políticos e figuras públicas, o que tem complicado bastante o trabalho dos que pretendem extinguir de vez esta modalidade.

Os apoiantes e defensores das touradas fazem-se valer pelo argumento da “tradição cultural”, o qual, prestando atenção aos factos da História Universal, não tem qualquer fundamento, caso contrário, se nada evoluísse em prol da tradição ainda haveria, por exemplo, escravos Gladiadores.


Gladiadores Romanos

Para quem já se não se recorda, os Gladiadores eram escravos na Antiga Roma, forçados a combater entre si, até à morte, ou pelo menos até um já não oferecer resistência ao adversário e, nesse caso, a sua vida ou morte era decidida pelo público, apenas por meio de um gesto.

Se o público exibisse a mão fechada com o polegar para cima, a vida do gladiador seria poupada, mas se exibisse a mão fechada com o polegar para baixo, a vida do escravo gladiador que já não oferecia resistência, deveria ser terminada pelo adversário, ali mesmo na arena, sem dó nem piedade. Tudo dependia da vontade do público e, em última instância, da vontade do imperador que presidia ao espectáculo.


A "Tradição" não prevaleceu

Utilizando o mesmo argumento, “por uma questão de tradição cultural”, estes eventos geradores de grande afluência por parte do público aos circos de Roma Antiga, também não deveriam ter sido extintos, uma vez que era, na altura, um dos poucos divertimentos populares e estava bastante enraizado na cultura daquele povo. Contudo, a evolução das mentalidades e consciências prevaleceu em detrimento da dita "tradição cultural" e os Gladiadores deixaram de existir.

Perante este e outros exemplos, a argumentação da “tradição cultural” torna-se inválida, logo à partida. Mas quanto à questão dos Gladiadores já a maioria está de acordo, uma vez que coloca em causa a vida humana e desse modo torna-se mais fácil consciencializar a maioria das pessoas, pois conseguem identificar-se, mais facilmente, com um escravo do que com um animal e penso que é exactamente aqui que reside o problema.


O Homem vs Natureza

O ser humano tem especial tendência para se julgar superior à Natureza e a tudo o que ela contém, tal como a flora, a fauna e os recursos naturais. No passado pensou-se que estes seriam inesgotáveis, pois teriam sido aqui “colocados” apenas para a satisfação dos nossos desejos, necessidades e interesses. Hoje em dia já dispomos de informação suficiente para compreender o quão errado estava este pensamento. Não só as fontes são esgotáveis, como são indispensáveis ao equilíbrio do nosso planeta.

O ser humano faz parte de um todo que necessita de todas as partes para que se mantenha equilibrado. Talvez após todos assumirem esta máxima se comece então a compreender que os animais não são objectos ou brinquedos aqui “colocados” para a nossa satisfação pessoal e social.

Talvez também, a partir daí, se repare nas semelhanças entre os animais humanos e os animais não humanos, que tal como nós pensam, sentem amor, dor, stress, medo, alegria e desenvolvem afeições e relações mas também depressões ou traumas, e tal como nós também têm direito à saúde mental e física e, principalmente, têm direito à vida.

Tenho consciência de que a humanidade não se tornará vegetariana de um dia para o outro. Contudo, se pelo menos, respeitássemos a existência de todos os seres vivos e recursos do nosso planeta e, por conseguinte, aprendêssemos a consumir apenas o indispensável à nossa sobrevivência, já seria um bom começo e evitar-se-iam inúmeras situações como o descrito abaixo:

In Liga Portuguesa dos Direitos do Animal
- "A produção de carne é encarada como uma necessidade de abastecer a vastíssima população humana. Como solução, o homem cria os animais como se se tratassem de máquinas produzidas em série, esquecendo-se do facto que se tratam de seres vivos com sentimentos e sensibilidade tendo o direito a não morrer e a viver uma vida livre de prisões. Os frangos são provavelmente os animais mais abusados em todo o mundo. Dezenas de milhares de frangos são colocados num espaço sujo e nojento, emersos nos seus próprios excrementos e cadáveres de outros frangos que morreram de ataque cardíaco ou stress." -


Uma questão de consciência...

Para muitos, pode parecer incompreensível que nem todos tenhamos já estes conceitos bem presentes nas nossas mentes, mas pela minha experiência pessoal e também pela informação que vou adquirindo, as pessoas não partilham todas do mesmo nível de consciência.

Situação que pode dever-se a inúmeros factores, entre os quais, herança cultural por parte da família e tecido social, educação, ou mesmo uma menor capacidade de abstracção, a qual nos permite distanciar de todas estas influências a que somos sujeitos durante a vida, proporcionando-nos uma visão mais clara das situações e desse modo, gerarmos os nossos valores, baseados nas nossas próprias opiniões e conhecimento empírico, independentemente dos conceitos herdados.


Salvo algumas excepções de pessoas que apresentam distúrbios mentais e que retiram prazer do sofrimento alheio, seja com animais ou com o seu semelhante, incrivelmente a maioria dos intervenientes nos eventos acima referidos (lutas de cães e galos, touradas, caça desportiva, etc.), demonstram até alguma "inocência" nas observações apresentadas.

É comum ouvi-los dizer que são amigos dos animais, pois ajudam a controlar e preservar a espécie, garantindo assim a sua continuidade, bem como afirmam proporcionar-lhes uma boa qualidade de vida.

Estas observações demonstram um profundo desconhecimento relativamente aos animais e ao mundo natural, por isso, cabe-nos a nós, aos que já temos alguma bagagem relativa a estas questões, abordar o tema responsavelmente de modo a conseguirmos transmitir os nossos conhecimentos. Penso que só assim, será possível passar a melhor mensagem, com vista a um entendimento global e desse modo contribuirmos para a tão desejada harmonia e equilíbrio ambiental do nosso planeta.




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